Quinta-feira, 31 de Maio de 2012

Na semana passada publiquei um post que mostrava a evolução das trocas comerciais entre a Alemanha e Portugal desde 1995. Penso que ajuda a clarificar algumas das consequências inevitáveis da criação do euro.

Outra forma de ver como o euro criou enormes desequilíbrios é comparar a evolução da Balança Corrente* da Alemanha com a Balança Corrente dos famosos PIIGS (= Portugal + Itália + Irlanda + Grécia + Espanha).

 

 
Como diria o outro: "Did they ever fit together?" 
 
*Balança Corrente = Balança Comercial (Exportações - Importações) + Balança de Rendimentos (Rendimentos recebidos de investimentos estrangeiros - Rendimentos pagos a investidores estrangeiros) + Balança de Transferências (ex: remessas de emigrantes)
 


publicado por Mais Um Economista às 16:36 | link do post | comentar

Terça-feira, 29 de Maio de 2012

Estava a pensar escrever sobre a questão dos feriados e das férias já há algum tempo. Como todos sabem, foi acordado o corte de 4 feríados e o corte dos 3 dias de férias "extra" que eram atribuídos aos trabalhadores consoante a sua assiduidade.

Entretanto encontrei uma referência interessante a este tópico aqui e vou aproveitar para divulgar.

No post faz-se referência a um ponto importante que é o facto de se dever comparar, não os mínimo legais de cada país, mas aquilo que é realmente praticado no mercado de trabalho. Por referência a um estudo da OCDE de 2007, cujos resultados são resumidos pela tabela baixo, podemos ver que Portugal não era, de todo, um país com um excessivo número de dias de não-trabalho pagos. De facto, o total de dias de feriados e férias era apenas ligeiramente superior à média dos países analisados.

Ora, com o corte dos 4 feriados (e o potencial impacto nos dias efectivos de férias do corte dos 3 dias adicionais) Portugal vai ficar destacadamente em primeiro lugar, com o número de dias de não-trabalho pagos mais baixo da Europa.


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publicado por Mais Um Economista às 16:44 | link do post | comentar

Domingo, 27 de Maio de 2012

No seguimento do post Portugal vs. Argentina II.

Um dos argumentos mais comuns contra a comparação de Portugal (ou Grécia) com a Argentina é de que este último tinha recursos naturais disponíveis para exportação que foram cruciais na sua recuperação económica após a quebra da paridade Peso/Dólar. Pena é que este argumento esteja errado. Em primeiro lugar, em 2001, as exportações Argentinas de commodities (entre os quais petróleo) eram equivalentes a apenas 6,6% do PIB; e em segundo lugar, estas exportações de petróleo (e mesmo as exportações em geral) não foram assim tão importantes na recuperação económica da Argentina, em particular no início da recuperação.

Isto pode ser comprovado em diversos estudos sobre o caso da Argentina, vejam este por exemplo: The Argentine Success Story and its Implications.

E mesmo uma análise rápida de alguns dados permite-nos concluir que não será em termos de exportações que Portugal (ou Grécia) estará pior posicionado para a saída do euro, em comparação com a Argentina de 2001. Abaixo temos um gráfico com o peso das exportações no PIB em Portugal, Grécia e Argentina, com os devidos ajustes temporais.

 

Como podemos ver, as exportações em % do PIB em Portugal são o triplo do que eram na Argentina em 2001. (E na Grécia são o dobro.) Portanto, não será de esperar que as exportações Portuguesas sejam menos importantes para a recuperação económica, antes pelo contrário.

E mesmo as exportações de petróleo na Argentina eram equivalentes a menos de 2% do PIB em 2001 (gráfico abaixo). Comparativamente (e por curiosidade), apesar de Portugal não ser rico em recursos naturais propriamente ditos, como petróleo ou gás natural, tem certamente outros "recursos naturais" muito exportáveis como o turismo. E as exportações de turismo em % do PIB em Portugal são quase o triplo do que eram as exportações de petróleo na Argentina em 2001. E não vejo por que razão uma desvaloriação da moeda não beneficie tanto as exportações de turismo como as exportações de petróleo.

 

Ainda em relação ao petróleo, um problema da desvalorização da moeda em Portugal (ou Grécia) - que não tem petróleo - é o aumento do preço. Mas isto é outra discussão - sobre importações - quem sabe para outro post.

 

To be continued...

 



publicado por Mais Um Economista às 15:10 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 25 de Maio de 2012

De volta ao tema da saída do euro, desta vez para falar sobre Portugal e a Argentina (isto no seguimento do post anterior sobre a Grécia).

Em baixo está outra vez o gráfico que mostra a evolução do PIB em Portugal e na Argentina, com os devidos ajustes temporais.

 

Ora, o que nos mostra este gráfico?

Sobre a Argentina, já referi no post anterior, mas muito resumidamente, mostra que demorou menos de 2 anos a recuperar para níveis pré-defualt e cresceu mais de 60%, após o default, entre 2002 e 2008 (dados para um período mais alargado mostram um crescimento de 90% entre 2002 e 2010).

 

E sobre Portugal?

O gráfico mostra que, até agora, a crise não foi tão severa como a crise na Argentina nos primeiros quatro anos, mas que a recuperação será muito mais lenta. As previsões apontam para que apenas em 2016 (9 anos depois da crise) Portugal consiga recuperar para o nível pré-crise (2007). E mais, no último ano das previsões, em 2017, Portugal estará, ainda, perto de 30% abaixo do nível resultante da aplicação de uma tendência de crescimento histórica. Por fim, não podemos esquecer que isto poderá ser pior, isto porque estas previsões do FMI poderão ser optimistas.

 

Então e se Portugal sair do euro? Seria como na Argentina?

Esta é a grande questão, e a responda é: ninguém sabe.

É impossível prever com exactidão que consequências teria a saída de Portugal do euro, até porque, neste momento, é muito difícil saber ao certo em que condições tal pudesse acontecer. E a comparação com a Argentina, apesar de ser útil e reveladora, não é por si só uma imagem completa do que acontecerá em Portugal.

No entanto, há alguns aspectos que podemos (e devemos) analisar no que respeita à experiência da Argentina em comparação com Portugal, e que poderão sem dúvida ajudar a perceber o que aconteceria a Portugal em caso de saída do euro.

 

To be continued...

 



publicado por Mais Um Economista às 21:21 | link do post | comentar

Quinta-feira, 24 de Maio de 2012

Tal como prometido, aqui está o gráfico comparativo entre o PIB de Portugal e Argentina (com o devido ajuste temporal).

Penso que o gráfico fala por si, mas deixem os vossos comentários!

Amanhã volto a este tópico.

 



publicado por Mais Um Economista às 20:37 | link do post | comentar | ver comentários (2)

A possibilidade da Grécia sair do euro é cada vez mais uma realidade. Vários economistas dizem que é inevitável e que acontecerá nos próximos meses ou semanas.

A ideia generalizada que se tem passado é que será uma "catástrofe". Prova recente disso é a notícia que está em destaque no Sapo - E se a Grécia sair mesmo do Euro?

Na opinião dos "analistas" consultados pela Visão, "as consequências da saída da Grécia do euro seriam 'semelhantes ao que aconteceu  na Argentina', no colapso financeiro no final da década de 1990". Afirmam ainda que a economia grega "pode ter uma recuperação de seis, sete ou oito anos".

A comparação com a Argentina tem sido frequente e faz sentido que assim seja. Muito resumidamente, a Argentina atravessava uma grave crise financeira desde 1998, em grande parte devido à paridade estipulada entre o Peso e o Dólar Americano, quando em Dezembro de 2001, decide quebrar essa paridade e reestruturar a sua dívida (default). Ora o que aconteceu desde então? Catástrofe? Talvez não...

Abaixo está um gráfico - elaborado por Weisbrot e Montecino - que compara a situação da Argentina entre 1996 e 2007 (eixo superior) com a situação da Grécia entre 2005 e 2016 (eixo inferior). 

 

E o que é que nos dizem estes dados sobre a performance da Argentina? 

Em primeiro lugar, o PIB da Argentina demorou menos de 2 anos a recuperar para os valores de 2001, ou seja bem mais rápido do que os "seis, sete, oito anos" que os analistas apontam como prazo de recuperação da Grécia.

Em segundo lugar, a economia Argentina cresceu mais de 60% após o default (entre 2002 e 2008) - superando, no final de 2005, a tendência histórica de crescimento. (Dados para um período mais alargado indicam ainda que a economia Argentina cresceu mais de 90% entre 2002 e 2010.)

 

E a economia grega?

Bom, o gráfico fala por si. De acordo com as previões do FMI (ou seja, assumindo que a Grécia cumpre o acordo e não sai do euro), podemos ver que a economa grega estará, em 2016 (9 anos depois do início crise), uns bons 25% abaixo da tendência verificada antes de 2007. (E como sabemos mesmo estas previsões serão, provavelmente, demasiado optimistas)

 

PS: Paralelismo semalhante poderá ser traçado entre a Argentina e Portugal (sim, porque Portugal sair do euro também é uma possibilidade cada vez mais real)  - Mais sobre isto ainda hoje!

  



publicado por Mais Um Economista às 15:10 | link do post | comentar | ver comentários (5)

Quarta-feira, 23 de Maio de 2012

Recomendo acompanharem o Business Blog - Eurozone Crisis Live (do The Guardian) onde durante o dia de hoje publicaram, entre outras coisas, o seguinte:

  • Ontem à noite o último Primeiro-Ministro grego (Lucas Papademos) avisou que está a ser preparada a saída da Grécia do euro.
  • Reuters diz ter tido acesso a uma comunicação de um oficial da Comissão Europeia onde se recomenda que os países preparem planos de contingência para a saída da Grécia do euro.
  • Cameron considera que as eleições na Grécia são um referendo à sua permanência no euro e que a saída do país união monetária não pode continuar a ser ignorada.

E com uma reunião dos líderes europeus marcada para hoje à tarde em Bruxelas, este Blog vai estar ainda mais repleto de interesse.

 

Sugiro também a leitura duma série de 3 artigos publicados no FT, o último deles, publicado à pouco, talvez seja o mais interessante.

Martin Wolf

Why is the eurozone different? | Part1 | Part 2 | Part 3

 



publicado por Mais Um Economista às 14:44 | link do post | comentar

O Banco Central Inglês disse não ao apelo do FMI mas o Governo diz sim - ou pelo menos anunciou que irão ser tomadas medidas de estímulo à economia. Teremos de esperar para ver, mas isto pode ser uma mudança de estratégia do Governo de Cameron, algo tardia mas de felicitar.

 

 



publicado por Mais Um Economista às 14:38 | link do post | comentar

O BoE (Banco Central Inglês) decidiu não alargar o seu programa de quantitative easing e manteve a taxa de juro de referência inalterada nos 0.5%.

Isto acontece um dia depois do FMI ter sugerido que a economia do Reino Unido enfrenta sérios riscos e que deveriam ser implementadas "políticas para estimular a procura". Ao que parece, o BoE não têm a mesma opinião.

Enquanto isso a economia do RU vai-se arrastando - consequência das severas (e desnecessárias) medidas de austeridade impostas pelo Governo de Cameron.

 



publicado por Mais Um Economista às 12:14 | link do post | comentar

Terça-feira, 22 de Maio de 2012

Depois das previsões do Governo e do FMI, aqui estão os gráficos para as previsões da OCDE. Confirma-se, como era de esperar, que a OCDE também erra bastante nas suas previsões, mesmo nas previsões a 1 ano.

 


 

Isto não é nenhuma surpresa. Apesar de eu só ter incluído as previsões dos Economic Outlooks desde Novembro de 2009, existem diversos estudos sobre a qualidade das previsões macroeconómicas que demonstram que estas tendem a ser pouco precisas, em especial em períodos de grande volatilidade como as crises. E esta imprecisão é comum a todos os organismos como a OCDE, FMI, Banco de Portugal, Governos, etc..

 



publicado por Mais Um Economista às 22:24 | link do post | comentar

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