Quinta-feira, 24 de Maio de 2012

A possibilidade da Grécia sair do euro é cada vez mais uma realidade. Vários economistas dizem que é inevitável e que acontecerá nos próximos meses ou semanas.

A ideia generalizada que se tem passado é que será uma "catástrofe". Prova recente disso é a notícia que está em destaque no Sapo - E se a Grécia sair mesmo do Euro?

Na opinião dos "analistas" consultados pela Visão, "as consequências da saída da Grécia do euro seriam 'semelhantes ao que aconteceu  na Argentina', no colapso financeiro no final da década de 1990". Afirmam ainda que a economia grega "pode ter uma recuperação de seis, sete ou oito anos".

A comparação com a Argentina tem sido frequente e faz sentido que assim seja. Muito resumidamente, a Argentina atravessava uma grave crise financeira desde 1998, em grande parte devido à paridade estipulada entre o Peso e o Dólar Americano, quando em Dezembro de 2001, decide quebrar essa paridade e reestruturar a sua dívida (default). Ora o que aconteceu desde então? Catástrofe? Talvez não...

Abaixo está um gráfico - elaborado por Weisbrot e Montecino - que compara a situação da Argentina entre 1996 e 2007 (eixo superior) com a situação da Grécia entre 2005 e 2016 (eixo inferior). 

 

E o que é que nos dizem estes dados sobre a performance da Argentina? 

Em primeiro lugar, o PIB da Argentina demorou menos de 2 anos a recuperar para os valores de 2001, ou seja bem mais rápido do que os "seis, sete, oito anos" que os analistas apontam como prazo de recuperação da Grécia.

Em segundo lugar, a economia Argentina cresceu mais de 60% após o default (entre 2002 e 2008) - superando, no final de 2005, a tendência histórica de crescimento. (Dados para um período mais alargado indicam ainda que a economia Argentina cresceu mais de 90% entre 2002 e 2010.)

 

E a economia grega?

Bom, o gráfico fala por si. De acordo com as previões do FMI (ou seja, assumindo que a Grécia cumpre o acordo e não sai do euro), podemos ver que a economa grega estará, em 2016 (9 anos depois do início crise), uns bons 25% abaixo da tendência verificada antes de 2007. (E como sabemos mesmo estas previsões serão, provavelmente, demasiado optimistas)

 

PS: Paralelismo semalhante poderá ser traçado entre a Argentina e Portugal (sim, porque Portugal sair do euro também é uma possibilidade cada vez mais real)  - Mais sobre isto ainda hoje!

  



publicado por Mais Um Economista às 15:10 | link do post | comentar

5 comentários:
De Pedro Leao a 2 de Julho de 2012 às 10:34
Sim...mas esta a esquecer que o rapido crescimento da Argentina aconteceu num momento em que os seus principais parceiros comerciais (Mercosul) estavam (e estao) pujantes e em franco crescimento...no caso da Grecia, nao e bem assim, ja que a maioria da Europa se encontra em recessao, ou crescimento muito lento...


De Mais Um Economista a 2 de Julho de 2012 às 12:54
Sem dúvida que as situações são algo diferentes. Mas eu ainda acredito que a par da saída da Grécia possa haver uma mudança na política económica ao nível mundial - nomeadamente o abandono da inconsequente austeridade expansionista. E se isso acontecer em países como EUA, Reino Unido, Alemanha, etc... já "ajudaria" bastante as economias dos países pequenos como a Grécia e Portugal.


De Pedro Leao a 2 de Julho de 2012 às 13:45
A austeridade nao e expansionista...pelo contrario, o intervencionismo estatal e sim muito expansionista, dai estarmos na situacao em que estamos...sou a favor de uma forte austeridade, que doeria a serio, acompanhada de reformas necessarias, mas rapida e que em pouco tempo se pudesse voltar a crescer...assim, doi muito mais, claro...(o objectivo desta austeridade e reestruturar a economia, alocando recursos para onde eles sao necessarios e retira-los de onde nao sao mais do que um fardo, ou seja, uma optimizacao de recursos...mas sera que ha coragem politica para o fazer, com tantos lobbies que enriquecem milhares de pessoas?Ai reside o problema...)


De Mais Um Economista a 4 de Julho de 2012 às 12:52
Caro Pedro
Devo dizer que discordo totalmente com a primeira parte do seu comentário e parcialmente da segunda. Quando diz que é a favor de uma "austeridade que doa a sério", sinceramente, não consigo entender as suas razões. A economia não é um jogo moral onde agora os pecadores têm de ser castigados pelos seus pecados passados. E ainda para mais, a grande maioria dos que estão a ser castigados não pecaram. A austeridade não castiga os interesses instalados, castiga os mais de 35% de jovens desempregados, os mais de 15% de total de desempregados, os funcionários públicos com cortes salariais de mais de 15%, etc... Esses interesses e lobbies de que fala acho que tem de ser combatidos, sim, mas nunca à custa da economia. E, em parte, é por isso que discordo do seu segundo argumento - da necessidade de reestruturação da economia. Acho que sim, é um facto que temos, também em Portugal, um grande bolha imobiliária e demasiado peso em sectores pouco ou nada transaccionáveis . No entanto, não nos podemos esquecer que a bolha imobiliária a par de outros sectores par consumo interno foram essencialmente alimentados pela grande entrada de financiamento barato do exterior em consequência da entrada do euro. Nem podemos culpar os lobbies e interesses por tudo. E se concordo que uma economia pequena como Portugal devia exportar muito mais do que exporta, ao mesmo tempo acho que a preocupação, para já, deveria ser por a economia a crescer, baixar o número de desempregados etc. Acredito que esta reestruturação acompanha de austeridade não só está a ser muito mais demorada do que podia ser se a economia estivesse a crescer como, ao ser uma reestruturação forçada, a realocação de recursos pode não vir a ser a melhor.


De Pedro Leao a 4 de Julho de 2012 às 15:54
" A realocacao de recursos podera nao vir a ser a melhor"...ai esta o problema, o que nos trouxe a situacao que enfrentamos hoje...nao foi o Euro,foi uma ma distribuicao de recursos,nao so dos sucessivos governos nacionais mas, muito mais, dos governos de Bruxelas...
Vivemos o conceito de liberdade de George Orwell:deram-nos recursos, mas so os podiamos gastar naquilo que os estados diziam(que normalmente nao e o mais productivo-dai o falhanco da ex URSS, e podemos/devemos estabelecer um paralelismo com a situacao actual da UE /EUA e a ex URSS), com as regras e taxas de juro que lhes interessava, com os seus impostos...
Quando falo numa austeridade que "doa a serio", num curto espaco de tempo, falo numa reestruturacao rapida, que naturalmente, no curto prazo, vai criar problemas graves em varios sectores (desemprego), que hoje sao pouco eficientes e como tal ou se tornam mais eficientes ou devem deixar de ser um fardo para o governo...
Claro que nao tem relacao com punir pecadores, acho que nem deveriamos, Portugueses, como nacao, entrar por essa ideia, de que a Alemanha nos esta a punir ...
Os 35% de jovens desempregados advem de uma economia que simplesmente nao e productiva (exceptuando alguns sectores)...que vive do credito, sem conseguir servir os juros dessa divida, quanto mais paga-la...A austeridade nao e a causa do problema em si...e uma necessidade...mas se nao for acompanhada por uma liberalizacao(atencao, liberalizacao nao e privatizacao) de varios sectores como Energia, Educacao, transportes, uma justica que funcione, desburocratizacao, acredite que ninguem investe no nosso pais (a nao ser, claro, que o Estado lhe confira o monopolio do sector, que e o que se tem passado em muitos casos, como por exemplo o investimento da China na nossa energetica...nao ha concorrencia, e lucro facil)...
Com o credito facil e estas politicas da UE, o pequeno/medio empresario, em vez de utilizar os seus lucros e reinvestir no seu negocio, comprava boas maquinas (carros de alta cilindrada, que demostravam o seu status social), casas de ferias aqui e ali, e o seu negocio com equipamento obsoleto...Mas ambos conhecemos a realidade...
Podemos falar em paises onde este sistema funcionou, como o Chile(na altura todas as vozes eram contra), o Brasil...



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