Sexta-feira, 13.07.12

Há uns dias um comentário referia que a desvalorização cambial não convence e que pode não funcionar. Uma das referências feitas no comentário diz respeito aos EUA e como o facto do dólar estar fraco não ter ajudado a economia. Discordo - antes pelo contrário, o dólar fraco tem mesmo sido muito importante para a economia americana.

Prova disso é a performance da indústria. Segundo o Institute for Supply Management(ISM), em Junho de 2012 houve uma contracção da actividade económica na indústria, o que aconteceu pela primeira vez desde Julho de 2009 (ISM Report On Business - June 2012). De facto, muito se tem falado da resistência à crise do sector industrial nos EUA e certamente que um dos seus motores tem sido a fraca prestação do dólar. E mesmo comparando o crescimento económico dos EUA com o da Europa, a economia americana está claramente em melhor forma.

E se o caso dos EUA não é uma referência ideal para o que aconteceria em Portugal, basta olharmos para exemplos passados como o da Argentina ou exemplos presentes como o da Islândia, para ver que a desvalorização cambial funciona mesmo.

Quero escrever um post sobre o caso da Islândia mas aqui fica um artigo interessante do NYTimes.

 

 



publicado por Mais Um Economista às 11:08 | link do post | comentar | ver comentários (7)

Sexta-feira, 01.06.12

Vou começar este post exactamente onde acabei o outro, no petróleo e nas importações. Como sabemos, o petróleo faz parte de um conjunto de coisas importantes que Portugal não produz, ou que não produz o suficiente para satisfazer as suas necessidades. E essas coisas importantes, caso Portugal saia do euro, vão sofrer aumentos de preço consideráveis em consequência da expectável desvalorização do escudo (ou de outra qualquer nova moeda de Portugal).
Para termos uma ideia do que estamos a falar, o gráfico abaixo mostra as actividades económicas com o maior peso nas importações portuguesas de bens em 2011. Como podemos ver, o petróleo e o gás natural representam quase 13% das importações nacionais de bens, a fabricação de produtos químicos (onde se incluem os produtos farmacêuticos) 13,6%, seguidos das indústrias alimentares e da fabricação de veículos automóveis com cerca de 10% cada.

 

Feita esta pequena introdução, então que consequências teria a desvalorização cambial nas importações e na economia?

Vou excluir desde já da minha análise coisas como os veículos automóveis, que não serão, a meu ver, um problema para a recuperação da economia portuguesa, pelo menos a curto prazo.

Portanto, em suma, as coisas que realmente seriam cruciais para uma recuperação sustentável e saudável da economia são os produtos energéticos (petróleo, gás natural e outros), os produtos alimentares e os produtos farmacêuticos. Penso que é unânime. Estas coisas são cruciais essencialmente na medida em são indispensáveis e insubstituíveis, e que a sua escassez poderia comprometer seriamente a estabilidade social do país e a recuperação económica a vários níveis.

No entanto, e apesar de concordar que as importações destas coisas seriam um dos problemas principais da saída do euro, tenho de fazer uma ressalva para alguns aspectos que tendem a ser ignorados.

Em primeiro lugar, os preços destas coisas e mesmo o preço de praticamente tudo o que é importado não aumentaria tanto quanto se pensa - e com isto não quero dizer que aumentaria pouco. Não se pode dizer é que se escudo desvalorizar, vamos supor, 40%, os preços do café aumentam 40%. Isto porque, como sabemos, quando alguém compra um café não está só a pagar o grão de café que foi importado, está também a pagar parte do salário do empregado que lhe serviu o café, do salário do patrão do estabelecimento, da renda do estabelecimento, do salário do distribuidor, e por aí fora. E destes componentes todos do preço do café, o único que aumentaria 40% é o grão de café. Os outros, pelo menos no curto prazo, permaneceriam fixos, o que resultaria num aumento do preço do café bem mais baixo do que os 40%.

Em segundo lugar, em muitos produtos, senão todos, o Estado poderia intervir por forma a conter a subida dos preços. Como todos sabemos, até há relativamente pouco tempo o preço dos combustíveis era fixado por lei, algo que pode bem voltar a ser feito. E o preço dos medicamentos é ainda hoje fixado por lei, logo o Estado pode intervir para limitar ou mesmo anular quaisquer subidas de preço nos produtos farmacêuticos. Mais, o Estado pode sempre baixar os impostos sobre o consumo, nomeadamente o IVA e o Imposto sobre Produtos Petrolíferos.

Por fim, devemos ter em conta o aumento da produção nacional que venha a substituir importações - que foi o principal motor da recuperação da economia Argentina. No petróleo e gás natural pouco há a fazer - excepto a aposta nas energias renováveis - mas os produtos alimentares serão um mar de oportunidades. Muitas novas indústrias voltarão a ser competitivas porque os preços internacionais aumentam, muitos terrenos agrícolas voltarão a ser cultivados por previsível suspensão da ridícula PAC e muitos pescadores nacionais voltarão ao mar por previsível suspensão das ridículas limitações comunitárias.  

Espero ter dissipado algumas das preocupações da saída do euro no que se refere a importações. No entanto, tenho que deixar claro que este seria um aspecto crucial e que, apesar do que expus, os preços aumentariam mesmo. Podem é aumentar mais ou menos consoante diversos factores e um deles, que considero muito importante, é a gestão da situação por parte do Governo.

Acredito mesmo que o ponto crucial para o sucesso da saída do euro não seria tanto o preço das importações mas sim a capacidade de gestão do Governo (ou a falta dela). Coloco assim este ponto à cabeça porque apesar da situação ser muito complicada de gerir, considero que é possível fazê-lo. O maior problema, penso eu, é que a classe política do nosso país, muito provavelmente, não estaria à altura de tamanho desafio.

 



publicado por Mais Um Economista às 10:36 | link do post | comentar | ver comentários (6)

Domingo, 27.05.12

No seguimento do post Portugal vs. Argentina II.

Um dos argumentos mais comuns contra a comparação de Portugal (ou Grécia) com a Argentina é de que este último tinha recursos naturais disponíveis para exportação que foram cruciais na sua recuperação económica após a quebra da paridade Peso/Dólar. Pena é que este argumento esteja errado. Em primeiro lugar, em 2001, as exportações Argentinas de commodities (entre os quais petróleo) eram equivalentes a apenas 6,6% do PIB; e em segundo lugar, estas exportações de petróleo (e mesmo as exportações em geral) não foram assim tão importantes na recuperação económica da Argentina, em particular no início da recuperação.

Isto pode ser comprovado em diversos estudos sobre o caso da Argentina, vejam este por exemplo: The Argentine Success Story and its Implications.

E mesmo uma análise rápida de alguns dados permite-nos concluir que não será em termos de exportações que Portugal (ou Grécia) estará pior posicionado para a saída do euro, em comparação com a Argentina de 2001. Abaixo temos um gráfico com o peso das exportações no PIB em Portugal, Grécia e Argentina, com os devidos ajustes temporais.

 

Como podemos ver, as exportações em % do PIB em Portugal são o triplo do que eram na Argentina em 2001. (E na Grécia são o dobro.) Portanto, não será de esperar que as exportações Portuguesas sejam menos importantes para a recuperação económica, antes pelo contrário.

E mesmo as exportações de petróleo na Argentina eram equivalentes a menos de 2% do PIB em 2001 (gráfico abaixo). Comparativamente (e por curiosidade), apesar de Portugal não ser rico em recursos naturais propriamente ditos, como petróleo ou gás natural, tem certamente outros "recursos naturais" muito exportáveis como o turismo. E as exportações de turismo em % do PIB em Portugal são quase o triplo do que eram as exportações de petróleo na Argentina em 2001. E não vejo por que razão uma desvaloriação da moeda não beneficie tanto as exportações de turismo como as exportações de petróleo.

 

Ainda em relação ao petróleo, um problema da desvalorização da moeda em Portugal (ou Grécia) - que não tem petróleo - é o aumento do preço. Mas isto é outra discussão - sobre importações - quem sabe para outro post.

 

To be continued...

 



publicado por Mais Um Economista às 15:10 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 25.05.12

De volta ao tema da saída do euro, desta vez para falar sobre Portugal e a Argentina (isto no seguimento do post anterior sobre a Grécia).

Em baixo está outra vez o gráfico que mostra a evolução do PIB em Portugal e na Argentina, com os devidos ajustes temporais.

 

Ora, o que nos mostra este gráfico?

Sobre a Argentina, já referi no post anterior, mas muito resumidamente, mostra que demorou menos de 2 anos a recuperar para níveis pré-defualt e cresceu mais de 60%, após o default, entre 2002 e 2008 (dados para um período mais alargado mostram um crescimento de 90% entre 2002 e 2010).

 

E sobre Portugal?

O gráfico mostra que, até agora, a crise não foi tão severa como a crise na Argentina nos primeiros quatro anos, mas que a recuperação será muito mais lenta. As previsões apontam para que apenas em 2016 (9 anos depois da crise) Portugal consiga recuperar para o nível pré-crise (2007). E mais, no último ano das previsões, em 2017, Portugal estará, ainda, perto de 30% abaixo do nível resultante da aplicação de uma tendência de crescimento histórica. Por fim, não podemos esquecer que isto poderá ser pior, isto porque estas previsões do FMI poderão ser optimistas.

 

Então e se Portugal sair do euro? Seria como na Argentina?

Esta é a grande questão, e a responda é: ninguém sabe.

É impossível prever com exactidão que consequências teria a saída de Portugal do euro, até porque, neste momento, é muito difícil saber ao certo em que condições tal pudesse acontecer. E a comparação com a Argentina, apesar de ser útil e reveladora, não é por si só uma imagem completa do que acontecerá em Portugal.

No entanto, há alguns aspectos que podemos (e devemos) analisar no que respeita à experiência da Argentina em comparação com Portugal, e que poderão sem dúvida ajudar a perceber o que aconteceria a Portugal em caso de saída do euro.

 

To be continued...

 



publicado por Mais Um Economista às 21:21 | link do post | comentar

Quinta-feira, 24.05.12

Tal como prometido, aqui está o gráfico comparativo entre o PIB de Portugal e Argentina (com o devido ajuste temporal).

Penso que o gráfico fala por si, mas deixem os vossos comentários!

Amanhã volto a este tópico.

 



publicado por Mais Um Economista às 20:37 | link do post | comentar | ver comentários (2)

A possibilidade da Grécia sair do euro é cada vez mais uma realidade. Vários economistas dizem que é inevitável e que acontecerá nos próximos meses ou semanas.

A ideia generalizada que se tem passado é que será uma "catástrofe". Prova recente disso é a notícia que está em destaque no Sapo - E se a Grécia sair mesmo do Euro?

Na opinião dos "analistas" consultados pela Visão, "as consequências da saída da Grécia do euro seriam 'semelhantes ao que aconteceu  na Argentina', no colapso financeiro no final da década de 1990". Afirmam ainda que a economia grega "pode ter uma recuperação de seis, sete ou oito anos".

A comparação com a Argentina tem sido frequente e faz sentido que assim seja. Muito resumidamente, a Argentina atravessava uma grave crise financeira desde 1998, em grande parte devido à paridade estipulada entre o Peso e o Dólar Americano, quando em Dezembro de 2001, decide quebrar essa paridade e reestruturar a sua dívida (default). Ora o que aconteceu desde então? Catástrofe? Talvez não...

Abaixo está um gráfico - elaborado por Weisbrot e Montecino - que compara a situação da Argentina entre 1996 e 2007 (eixo superior) com a situação da Grécia entre 2005 e 2016 (eixo inferior). 

 

E o que é que nos dizem estes dados sobre a performance da Argentina? 

Em primeiro lugar, o PIB da Argentina demorou menos de 2 anos a recuperar para os valores de 2001, ou seja bem mais rápido do que os "seis, sete, oito anos" que os analistas apontam como prazo de recuperação da Grécia.

Em segundo lugar, a economia Argentina cresceu mais de 60% após o default (entre 2002 e 2008) - superando, no final de 2005, a tendência histórica de crescimento. (Dados para um período mais alargado indicam ainda que a economia Argentina cresceu mais de 90% entre 2002 e 2010.)

 

E a economia grega?

Bom, o gráfico fala por si. De acordo com as previões do FMI (ou seja, assumindo que a Grécia cumpre o acordo e não sai do euro), podemos ver que a economa grega estará, em 2016 (9 anos depois do início crise), uns bons 25% abaixo da tendência verificada antes de 2007. (E como sabemos mesmo estas previsões serão, provavelmente, demasiado optimistas)

 

PS: Paralelismo semalhante poderá ser traçado entre a Argentina e Portugal (sim, porque Portugal sair do euro também é uma possibilidade cada vez mais real)  - Mais sobre isto ainda hoje!

  



publicado por Mais Um Economista às 15:10 | link do post | comentar | ver comentários (5)


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