Terça-feira, 17.07.12

"A reestruturação da economia portuguesa" é mais uma das expressões que passou a fazer parte do dia-a-dia de todos os portugueses. Todos sabemos que saída da crise será à custa das "reformas estruturais" e os membros do Governo, principalmente o Primeiro Ministro e o Ministro da Economia, usam este argumento para tudo e para nada.

A meu ver, é certo que a economia portuguesa podia exportar mais do que exporta e que existe uma alocação de recursos por vezes ineficiente, fruto, em grande parte, duma legislação e duma política de incentivos desadequadas.

As "reformas estruturais" são necessárias e pecam por tardias, mas, lamento, não são aquilo que precisamos para sair da crise. São importantes para a economia no longo prazo, mas no curto prazo o seu impacto até pode ser negativo.

Para ilustrar o problema aqui fica uma versão de Paul Krugman duma metáfora primeiramente contada por Keynes aquando da Grande Depressão.

Imaginem que esta crise é como uma falha no sistema eléctrico de um carro, por exemplo o carro não pega porque a bateria "morreu". Ora, bastaria por uma bateria nova - operação relativamente simples e barata - e o carro estava de novo a funcionar. E com isto não estou a dizer que não haja outros problemas com o carro, alguns deles até problemas graves. Talvez o carro precise de travões novos ou uma nova caixa de velocidades, o que pode melhorar a performance do carro no futuro.

A questão é: que sentido faz não começar por substituir a bateria?

De volta à economia, o que precisamos de fazer para sair da crise é reanimar a procura. Isto precisa de ser feito ao nível mundial e mudar os travões ou a caixa de velocidades não adianta (as reformas estruturais); temos de desistir da austeridade e adoptar medidas expansionistas (mudar a bateria).

 

Senão vejamos um exemplo claro da impotência das reformas estruturais:

A reforma do mercado de trabalho que, entre outras coisas, irá diminuir as indemnizações por despedimento, visa promover maior entrada e saída de trabalhadores, garantindo uma mais eficiente alocação de recursos. Agora, esta alteração só se aplica a partir de 31 de Outubro de 2012 - não se aplica retoricamente.

Será que vai a tempo de ajudar Portugal a sair da crise? Claro que não. 

 



publicado por Mais Um Economista às 14:30 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Quinta-feira, 28.06.12

Richard Layard (London School of Economics) e Paul Krugman criaram um manifesto para expor o essencial da forma como os policy makers têm interpretado erradamente a natureza desta crise, confundido as causas com efeitos, e respondido de forma a tornar a situação ainda pior. O manifesto está disponível online para ser assinado por economistas e não só: http://www.manifestoforeconomicsense.org/

 

A Manifesto for Economic Sense

 

More than four years after the financial crisis began, the world’s major advanced economies remain deeply depressed, in a scene all too reminiscent of the 1930s. And the reason is simple: we are relying on the same ideas that governed policy in the 1930s. These ideas, long since disproved, involve profound errors both about the causes of the crisis, its nature, and the appropriate response.

These errors have taken deep root in public consciousness and provide the public support for the excessive austerity of current fiscal policies in many countries. So the time is ripe for a Manifesto in which mainstream economists offer the public a more evidence-based analysis of our problems.

  • The causes.Many policy makers insist that the crisis was caused by irresponsible public borrowing. With very few exceptions - other than Greece - this is false. Instead, the conditions for crisis were created by excessive private sector borrowing and lending, including by over-leveraged banks. The collapse of this bubble led to massive falls in output and thus in tax revenue. So the large government deficits we see today are a consequence of the crisis, not its cause.
  • The nature of the crisis.When real estate bubbles on both sides of the Atlantic burst, many parts of the private sector slashed spending in an attempt to pay down past debts. This was a rational response on the part of individuals, but - just like the similar response of debtors in the 1930s - it has proved collectively self-defeating, because one person’s spending is another person’s income. The result of the spending collapse has been an economic depression that has worsened the public debt.
  • The appropriate response.  At a time when the private sector is engaged in a collective effort to spend less, public policy should act as a stabilizing force, attempting to sustain spending. At the very least we should not be making things worse by big cuts in government spending or big increases in tax rates on ordinary people. Unfortunately, that’s exactly what many governments are now doing.
  • The big mistake. After responding well in the first, acute phase of the economic crisis, conventional policy wisdom took a wrong turn - focusing on government deficits, which are mainly the result of a crisis-induced plunge in revenue, and arguing that the public sector should attempt to reduce its debts in tandem with the private sector. As a result, instead of playing a stabilizing role, fiscal policy has ended up reinforcing the dampening effects of private-sector spending cuts.

In the face of a less severe shock, monetary policy could take up the slack. But with interest rates close to zero, monetary policy - while it should do all

 

 



publicado por Mais Um Economista às 18:27 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Quarta-feira, 20.06.12

"Os povos da zona euro estão como os prisioneiros de Colditz, encarcerados numa fortaleza monetária com flexibilidade de granito." A referência a Colditz não é casual - é um castelo onde os alemães mantiveram os prisioneiros de guerra considerados "incorrigíveis" durante a Segunda Guerra Mundial. Hoje não são prisioneiros de guerra mas sim povos do sul irresponsáveis.

The eurozone's people are like prisoners in Colditz, Simon Jenkins @ The Guardian

 

Série de excertos de uma entrevista com Paul Krugman que serão publicados durante a semana.

Primeiro parte: Economist Paul Krugman on Germany's 'Whips and Scourges' @ PBS NEWSHOUR

 



publicado por Mais Um Economista às 13:10 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quarta-feira, 23.05.12

O Banco Central Inglês disse não ao apelo do FMI mas o Governo diz sim - ou pelo menos anunciou que irão ser tomadas medidas de estímulo à economia. Teremos de esperar para ver, mas isto pode ser uma mudança de estratégia do Governo de Cameron, algo tardia mas de felicitar.

 

 



publicado por Mais Um Economista às 14:38 | link do post | comentar

O BoE (Banco Central Inglês) decidiu não alargar o seu programa de quantitative easing e manteve a taxa de juro de referência inalterada nos 0.5%.

Isto acontece um dia depois do FMI ter sugerido que a economia do Reino Unido enfrenta sérios riscos e que deveriam ser implementadas "políticas para estimular a procura". Ao que parece, o BoE não têm a mesma opinião.

Enquanto isso a economia do RU vai-se arrastando - consequência das severas (e desnecessárias) medidas de austeridade impostas pelo Governo de Cameron.

 



publicado por Mais Um Economista às 12:14 | link do post | comentar

Sábado, 19.05.12

Já agora, uns dados interessantes que não abonam nada a favor de Cameron. Aparentemente a austeridade também não tem ajudado muito a economia do RU, que até esteve pior que a União Europeia (UE) e a Zona Euro (ZE) no primeiro trimestre de 2012.

Outro dado interessante é que Cameron ao longo do último ano tem culpado a Europa pelo fraco crescimento económico do RU. Well Mr Cameron, now what?

 

 



publicado por Mais Um Economista às 18:46 | link do post | comentar

Neste tipo de posts vou-vos deixar com coisas recentes que vi, li ou ouvir falar e achei interessantes. Se tiverem tempo comentem, partilhem, etc...

 

Sobre Cameron e a austeridade que tem conduzido o Reino Unido para a estagnação económica. Interessante como Cameron consegue pedir políticas de crescimento e menos austeridade na Europa mas continua a achar que as suas políticas internas de austeridade são adequadas, estão a funcionar e são para continuar.

Martin Wolf (@ Financial Times)

Cameron is consigning the UK to stagnation

 

É sempre interessante ler artigos e posts de Krugman. Mas talvez mais interessante é vê-lo a falar. Nem parece o Paul Krugman, vencedor do prémio Nobel, que muitos desconhecem. Discurso simples, directo e corajoso.

Paul Krugman (@ Democracy Now):

1) Apelo ao aumento da despesa pública e ao fim do histerismo da austeridade, por forma a salvar a economia (mundial). - Vídeo 1.

2) "A Zona Euro pode colapsar nos próximos meses" - Vídeo 2.

 

PS: Não sei se já ouviram falar mas o Krugman publicou recentemente um novo livro. Acho que ainda não está traduzido para português mas aqui fica o link para quem estiver interessado na versão inglesa "End This Depression Now!".

 



publicado por Mais Um Economista às 18:14 | link do post | comentar


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