Excelente artigo académico do conhecido economista Paul De Grauwe em co-autoria com Yuemei Ji. Os autores testam a hipótese de que os mercados de obrigações da dívida pública dos países da zona euro são mais frágeis e mais susceptíveis a self-fulfilling liquidity crises que os de países que emitem dívida pública na sua própria moeda. Os resultados são os esperados e de acordo com o que eu tenho defendido - Portugal e os demais sofrem de "negative self-fulfilling market sentiments" que agravaram a subida dos juros em especial desde finais de 2010.
Self-Fulfilling Crises in the Eurozone: An Empirical Test by Paul De GrauweYuemei Ji
PS: As self-fulfilling liquidity crises referidas resultam do facto de países como Portugal não emitirem dívida na sua própria moeda, ou seja, não poderem garantir totalmente o pagamento dessa dívida porque, no limite, ao contrário dos países como o Reino Unido ou os EUA, não podem imprimir dinheiro para a pagar. Assim, os investidores ao temerem o default de um país como Portugal, exigem taxas de juro mais altas, e isso por si só torna default mais provável (daí o self-fulfilling) e pode gerar, como gerou em Portugal, graves problemas de liquidez.
Em resposta a alguns comentários recentes, aqui vai um primeiro post.
Não foram os défices públicos que nos trouxeram até esta crise. Pelo contrário, os elevados défices e o crescimento das dívidas públicas no mundo todo foram consequência da crise.
Para quem não concorda basta olhar para os casos como a Espanha ou a Irlanda que tinham as contas públicas mais do que em ordem. E mesmo Portugal tinha, em 2007, uma dívida pública de apenas 68% (apenas mais 3 pp. que a Alemanha).
Ora, em consequência da crise, isso sim, e uma vez que a primeira resposta, ao nível global, foi uma resposta no sentido correcto - aumento da despesa para reanimar a economia - aí sim os défices foram significativos, como tinham de ser. O problema veio pouco depois, quando os políticos das principais economias do mundo acharam que a crise era um problema já ultrapassado. Isto, aliado a uma preocupação crescente e infundada com as dívidas públicas levou os governos a cortarem cedo demais os apoios à economia e a recuperação esfumou-se. (Vejam este post com a história das conclusões das reuniões do G20 desde o inicio da crise)
E sim, a preocupação com as dívidas públicas era e é infundada - senão recorde-se que os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, apesar de terem défices e dívidas públicas bem mais elevadas que em 2007, têm hoje as taxas de juro a níveis nunca vistos de tão baixos que são. E apesar dos países do Sul da Europa terem visto os seus juros aumentar não podemos confundir as coisas. Os juros de Portugal e dos demais aumentam porque os mercado perceberam há muito tempo que o euro, assim como ele é hoje, não tem futuro. Portanto, no caso de um breakup do euro todos sabemos o que aconteceria.
Nomeadamente, ao nível das taxas de cambio, países como Portugal sofreriam fortes desvalorizações contra fortes valorizações em países como a Alemanha, e podíamos mesmo ter um default parcial das dívidas de países como Portugal. É isso que os mercado temem e daí, nos últimos anos, as taxas de juro terem divergido tanto entre países como Portugal e países como a Alemanha. O que está em causa não é o tamanho exagerado do governos em Portugal ou na Grécia (que só por acaso é tão grande como na Alemanha). O que está em causa é Portugal como economia. Economia essa que dentro da zona euro actual não tem futuro e, como sabemos, a dívida externa de Portugal, tanto pública como privada, paga-se com o que a economia produz.
Richard Layard (London School of Economics) e Paul Krugman criaram um manifesto para expor o essencial da forma como os policy makers têm interpretado erradamente a natureza desta crise, confundido as causas com efeitos, e respondido de forma a tornar a situação ainda pior. O manifesto está disponível online para ser assinado por economistas e não só: http://www.manifestoforeconomicsense.org/
A Manifesto for Economic Sense
More than four years after the financial crisis began, the world’s major advanced economies remain deeply depressed, in a scene all too reminiscent of the 1930s. And the reason is simple: we are relying on the same ideas that governed policy in the 1930s. These ideas, long since disproved, involve profound errors both about the causes of the crisis, its nature, and the appropriate response.
These errors have taken deep root in public consciousness and provide the public support for the excessive austerity of current fiscal policies in many countries. So the time is ripe for a Manifesto in which mainstream economists offer the public a more evidence-based analysis of our problems.
In the face of a less severe shock, monetary policy could take up the slack. But with interest rates close to zero, monetary policy - while it should do all
Pois, o país B é mesmo a Espanha e o país A a Alemanha.
Por estranho que pareça, entre 1999 e 2007, o saldo das contas públicas foi, em média, -2,2% na Alemanha e +0.2% em Espanha. Portanto um défice médio de 2,2% na Alemanha e um superavit médio de 0.2% em Espanha. Também importante é o facto da Espanha ter cumprido sempre o limite dos 3% do défice entre 1999 e 2007. Já a Alemanha nem por isso, em 9 anos furou a barreira dos 3% por 5 vezes.
E a dívida pública? Em 2007, era de 65% na Alemanha e de 36% em Espanha.
Parece que isto é um bocado contraditório face à ideia que se tem passado, lamentavelmente com bastante sucesso, de que a crise do euro é a consequência da actuação irresponsável dos governos do sul da Europa.
Actualização do post de 8 de Junho: Quem é Quem?Abaixo estão dois gráficos para dois países, um com o saldo das contas públicas e outro com a dívida pública, entre 1996 e 2007.Que países são?Uma dica: o país A joga Sábado e o país B joga no Domingo.
Abaixo estão dois gráficos para dois países, um com o saldo das contas públicas e outro com a dívida pública, entre 1996 e 2007.
Que países são?
Uma dica: o país A joga Sábado e o país B joga no Domingo.
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