Domingo, 27.05.12

No seguimento do post Portugal vs. Argentina II.

Um dos argumentos mais comuns contra a comparação de Portugal (ou Grécia) com a Argentina é de que este último tinha recursos naturais disponíveis para exportação que foram cruciais na sua recuperação económica após a quebra da paridade Peso/Dólar. Pena é que este argumento esteja errado. Em primeiro lugar, em 2001, as exportações Argentinas de commodities (entre os quais petróleo) eram equivalentes a apenas 6,6% do PIB; e em segundo lugar, estas exportações de petróleo (e mesmo as exportações em geral) não foram assim tão importantes na recuperação económica da Argentina, em particular no início da recuperação.

Isto pode ser comprovado em diversos estudos sobre o caso da Argentina, vejam este por exemplo: The Argentine Success Story and its Implications.

E mesmo uma análise rápida de alguns dados permite-nos concluir que não será em termos de exportações que Portugal (ou Grécia) estará pior posicionado para a saída do euro, em comparação com a Argentina de 2001. Abaixo temos um gráfico com o peso das exportações no PIB em Portugal, Grécia e Argentina, com os devidos ajustes temporais.

 

Como podemos ver, as exportações em % do PIB em Portugal são o triplo do que eram na Argentina em 2001. (E na Grécia são o dobro.) Portanto, não será de esperar que as exportações Portuguesas sejam menos importantes para a recuperação económica, antes pelo contrário.

E mesmo as exportações de petróleo na Argentina eram equivalentes a menos de 2% do PIB em 2001 (gráfico abaixo). Comparativamente (e por curiosidade), apesar de Portugal não ser rico em recursos naturais propriamente ditos, como petróleo ou gás natural, tem certamente outros "recursos naturais" muito exportáveis como o turismo. E as exportações de turismo em % do PIB em Portugal são quase o triplo do que eram as exportações de petróleo na Argentina em 2001. E não vejo por que razão uma desvaloriação da moeda não beneficie tanto as exportações de turismo como as exportações de petróleo.

 

Ainda em relação ao petróleo, um problema da desvalorização da moeda em Portugal (ou Grécia) - que não tem petróleo - é o aumento do preço. Mas isto é outra discussão - sobre importações - quem sabe para outro post.

 

To be continued...

 



publicado por Mais Um Economista às 15:10 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 21.05.12

A criação do Euro é um assunto que foi e contínua a ser muito discutido. Não há dúvida que persistem muitos pontos de interrogação quanto ao seu funcionamento, nomeadamente no que se refere à Zona Euro ser ou não uma Zona Monetária Óptima.

No entanto, e independetemente das questões teóricas que possam e devem ser discutidas (das quais falarei mais tarde), o Euro está criado e passados mais de 10 anos há factos que são tão evidentes e inegáveis que deveriam ser assumidos.

O gráfico abaixo mostra a evolução das Exportações e das Importações de Bens da Alemanha com o parceiro Portugal, entre 1995 e 2010.

  • As Exportações da Alemanha para Portugal foram, em 2008, mais de duas vezes e meia as Exportações de 1995.
  • Só entre 2001 e 2008 as Exportações da Alemanha para Portugal aumentaram cerca de 117%.
  • O Saldo entre as Exportações e as Importações, entre 1999 (data da entrada em vigor do Euro) e 2010, foi em média pouco mais de 3 mil milhões de euros - e em 2008 foi de quase 6 mil milhões de euros (o equivalente a 5% do PIB).
  • No total, entre 1999 e 2010 foram aproximadamente 36 mil milhões de euros de Excedente Comercial (Exp.-Imp.) a favor da Alemanha.
 
 
 

Eu não quero que pensem que sou da opinião de que o Euro tenha sido criado com este propósito. Não sou.

Mas, de facto, o Euro tornou-se um instrumento crucial para o reanimar da débil economia alemã - que no final dos anos 90 e princípio dos anos 2000 estava entre as piores da Europa - e acabou por se revelar uma espécie de armadilha para as economias como Portugal. 

 
 


publicado por Mais Um Economista às 16:33 | link do post | comentar


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