Vou começar este post exactamente onde acabei o outro, no petróleo e nas importações. Como sabemos, o petróleo faz parte de um conjunto de coisas importantes que Portugal não produz, ou que não produz o suficiente para satisfazer as suas necessidades. E essas coisas importantes, caso Portugal saia do euro, vão sofrer aumentos de preço consideráveis em consequência da expectável desvalorização do escudo (ou de outra qualquer nova moeda de Portugal).
Para termos uma ideia do que estamos a falar, o gráfico abaixo mostra as actividades económicas com o maior peso nas importações portuguesas de bens em 2011. Como podemos ver, o petróleo e o gás natural representam quase 13% das importações nacionais de bens, a fabricação de produtos químicos (onde se incluem os produtos farmacêuticos) 13,6%, seguidos das indústrias alimentares e da fabricação de veículos automóveis com cerca de 10% cada.
Feita esta pequena introdução, então que consequências teria a desvalorização cambial nas importações e na economia?
Vou excluir desde já da minha análise coisas como os veículos automóveis, que não serão, a meu ver, um problema para a recuperação da economia portuguesa, pelo menos a curto prazo.
Portanto, em suma, as coisas que realmente seriam cruciais para uma recuperação sustentável e saudável da economia são os produtos energéticos (petróleo, gás natural e outros), os produtos alimentares e os produtos farmacêuticos. Penso que é unânime. Estas coisas são cruciais essencialmente na medida em são indispensáveis e insubstituíveis, e que a sua escassez poderia comprometer seriamente a estabilidade social do país e a recuperação económica a vários níveis.
No entanto, e apesar de concordar que as importações destas coisas seriam um dos problemas principais da saída do euro, tenho de fazer uma ressalva para alguns aspectos que tendem a ser ignorados.
Em primeiro lugar, os preços destas coisas e mesmo o preço de praticamente tudo o que é importado não aumentaria tanto quanto se pensa - e com isto não quero dizer que aumentaria pouco. Não se pode dizer é que se escudo desvalorizar, vamos supor, 40%, os preços do café aumentam 40%. Isto porque, como sabemos, quando alguém compra um café não está só a pagar o grão de café que foi importado, está também a pagar parte do salário do empregado que lhe serviu o café, do salário do patrão do estabelecimento, da renda do estabelecimento, do salário do distribuidor, e por aí fora. E destes componentes todos do preço do café, o único que aumentaria 40% é o grão de café. Os outros, pelo menos no curto prazo, permaneceriam fixos, o que resultaria num aumento do preço do café bem mais baixo do que os 40%.
Em segundo lugar, em muitos produtos, senão todos, o Estado poderia intervir por forma a conter a subida dos preços. Como todos sabemos, até há relativamente pouco tempo o preço dos combustíveis era fixado por lei, algo que pode bem voltar a ser feito. E o preço dos medicamentos é ainda hoje fixado por lei, logo o Estado pode intervir para limitar ou mesmo anular quaisquer subidas de preço nos produtos farmacêuticos. Mais, o Estado pode sempre baixar os impostos sobre o consumo, nomeadamente o IVA e o Imposto sobre Produtos Petrolíferos.
Por fim, devemos ter em conta o aumento da produção nacional que venha a substituir importações - que foi o principal motor da recuperação da economia Argentina. No petróleo e gás natural pouco há a fazer - excepto a aposta nas energias renováveis - mas os produtos alimentares serão um mar de oportunidades. Muitas novas indústrias voltarão a ser competitivas porque os preços internacionais aumentam, muitos terrenos agrícolas voltarão a ser cultivados por previsível suspensão da ridícula PAC e muitos pescadores nacionais voltarão ao mar por previsível suspensão das ridículas limitações comunitárias.
Espero ter dissipado algumas das preocupações da saída do euro no que se refere a importações. No entanto, tenho que deixar claro que este seria um aspecto crucial e que, apesar do que expus, os preços aumentariam mesmo. Podem é aumentar mais ou menos consoante diversos factores e um deles, que considero muito importante, é a gestão da situação por parte do Governo.
Acredito mesmo que o ponto crucial para o sucesso da saída do euro não seria tanto o preço das importações mas sim a capacidade de gestão do Governo (ou a falta dela). Coloco assim este ponto à cabeça porque apesar da situação ser muito complicada de gerir, considero que é possível fazê-lo. O maior problema, penso eu, é que a classe política do nosso país, muito provavelmente, não estaria à altura de tamanho desafio.
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