Em resposta a alguns comentários recentes, aqui vai um primeiro post.
Não foram os défices públicos que nos trouxeram até esta crise. Pelo contrário, os elevados défices e o crescimento das dívidas públicas no mundo todo foram consequência da crise.
Para quem não concorda basta olhar para os casos como a Espanha ou a Irlanda que tinham as contas públicas mais do que em ordem. E mesmo Portugal tinha, em 2007, uma dívida pública de apenas 68% (apenas mais 3 pp. que a Alemanha).
Ora, em consequência da crise, isso sim, e uma vez que a primeira resposta, ao nível global, foi uma resposta no sentido correcto - aumento da despesa para reanimar a economia - aí sim os défices foram significativos, como tinham de ser. O problema veio pouco depois, quando os políticos das principais economias do mundo acharam que a crise era um problema já ultrapassado. Isto, aliado a uma preocupação crescente e infundada com as dívidas públicas levou os governos a cortarem cedo demais os apoios à economia e a recuperação esfumou-se. (Vejam este post com a história das conclusões das reuniões do G20 desde o inicio da crise)
E sim, a preocupação com as dívidas públicas era e é infundada - senão recorde-se que os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, apesar de terem défices e dívidas públicas bem mais elevadas que em 2007, têm hoje as taxas de juro a níveis nunca vistos de tão baixos que são. E apesar dos países do Sul da Europa terem visto os seus juros aumentar não podemos confundir as coisas. Os juros de Portugal e dos demais aumentam porque os mercado perceberam há muito tempo que o euro, assim como ele é hoje, não tem futuro. Portanto, no caso de um breakup do euro todos sabemos o que aconteceria.
Nomeadamente, ao nível das taxas de cambio, países como Portugal sofreriam fortes desvalorizações contra fortes valorizações em países como a Alemanha, e podíamos mesmo ter um default parcial das dívidas de países como Portugal. É isso que os mercado temem e daí, nos últimos anos, as taxas de juro terem divergido tanto entre países como Portugal e países como a Alemanha. O que está em causa não é o tamanho exagerado do governos em Portugal ou na Grécia (que só por acaso é tão grande como na Alemanha). O que está em causa é Portugal como economia. Economia essa que dentro da zona euro actual não tem futuro e, como sabemos, a dívida externa de Portugal, tanto pública como privada, paga-se com o que a economia produz.
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